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Boi Voador

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"O Boi Voador" como ponto de partida o trabalho solo de dança contemporânea é carregado de simbolismos e significados. Este solo, que ainda ressoa de forma latente, emerge agora como terreno fértil para desconstruções, reconstruções e reinvenções. Ao mergulhar em sua trilha sonora e reordenar as cenas, a proposta não é apenas resgatar, mas transcender o que foi vivido. É a necessidade de falar de novos temas, de trazer à tona questões urgentes e íntimas. É a vontade de emergir, libertar-se, reencontrar a força criativa e, assim, recomeçar.

Os encontros entre corpo e espaço são experiências que ultrapassam a percepção sensorial superficial. São trocas profundas, onde o movimento se entrelaça com a energia dos lugares, absorvendo o que é visível e invisível. Essa dança entre indivíduos e o mundo físico não apenas revela o potencial expressivo do corpo, mas também conduz a um entendimento mais íntimo e complexo das relações humanas.

Milton Santos nos lembra que os lugares não são apenas geografias, mas portadores de memórias, histórias e significados. Movimentar-se por esses espaços é como desenhar um mapa sensível, onde cada gesto é carregado pelas marcas imateriais deixadas pelas vivências. Essa percepção é ampliada por Jean Charlier, que vê a cultura como um processo coletivo, nascido dos encontros, das tensões e das trocas. Essa dinâmica cultural, muitas vezes tensionada pela globalização, desafia os limites entre o tradicional e o contemporâneo, entre o particular e o universal.

Num mundo onde a globalização muitas vezes uniformiza expressões culturais, é essencial valorizar as singularidades. Preservar essas especificidades é não apenas um ato de resistência, mas uma maneira de revitalizar as culturas e promover o florescimento de suas identidades. O trabalho solo proposto aqui carrega esse mesmo espírito: uma tentativa de equilibrar raízes e inovação, resgatando elementos únicos enquanto dialoga com o novo.

A metáfora do "caipira globalizado" traduz a coexistência entre a herança local e a influência global. Esse híbrido cultural reflete a dança entre tradições e transformações, explorando as tensões e as harmonias que surgem nesse processo. Essa mesma dança permeia o solo, que se propõe a revisitar o passado do "Boi Voador" e transformá-lo em algo que reflete o presente, cheio de contrastes e camadas.

"O Boi Voador" é, por si só, um reflexo dessa interação rica e complexa. É a jornada que explora os contrastes da vida: alegria e dor, encontros e despedidas, luz e sombra. Ao revisitar essa obra, o objetivo não é apenas se debruçar sobre o que já foi, mas permitir que ela se torne uma ponte para novas explorações. A dança, então, se torna um caminho de autoconhecimento, um diálogo entre corpo, espaço e cultura.

Este solo é mais do que uma performance; é um manifesto criativo, uma busca por conexão e autenticidade. É um convite para refletir sobre os encontros – com o mundo, com a cultura e consigo mesmo – e transformar essas vivências em movimento. Que essa jornada seja tanto libertadora quanto transformadora, guiando o corpo e a alma para novos horizontes.

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