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Há forças que nos atravessam, correntes que moldam a vida, mas também potências que incitam o risco de existir. Essas potências não estão orientadas pela certeza ou pela lógica finalista, mas pelo movimento incessante de tecer e destecer o que somos. O Brain Diving e a Dieta Aranha emergem como convites ao desconhecido, gestos que rasgam o véu da familiaridade e nos confrontam com a vertigem da transformação. Como o prisioneiro da caverna de Platão, que abandona as sombras para encarar uma luz que fere e desvela, somos chamados a habitar o abismo e a criar no espaço entre o visível e o invisível. Não buscamos respostas definitivas, mas aceitamos o tropeço, o desvio, o campo aberto do porvir.

Tecer não é criar ordem; é abrir brechas, uma prática que pulsa entre o acaso e a necessidade. Assim como a aranha que, sem projeto predeterminado, transforma seu corpo em extensão da teia, o corpo humano é atravessado por redes que o precedem e o moldam. Essas redes, não só apenas capturam, mas criam espaços de habitação e reinvenção. Elas operam em campos de memória, afeto e interação que nos contêm e libertam, sustentando o fluxo da existência em sua constante reinvenção.

Ao mergulhar no abismo proposto pelo Brain Diving, o corpo se transfigura em paisagem e ritmo, vibrando com forças que escapam ao controle consciente. Da mesma forma, a Dieta Aranha nos desafia a nos entregarmos a um modo de existência em que a criação é vital, e não projetada. Perguntamo-nos, então: quem tece quem? A aranha à teia ou a teia à aranha? O corpo ou o pensamento? O que dança em nós?não é apenas o movimento em si, mas o estado de ser tocado, de ser transformado pelo que escapa e nos convida a criar.

Platão nos alertou sobre o conforto das ilusões e das sombras, mas o desconhecido que a luz revela também resiste a ser domado. As práticas cotidianas, como limpar os cantos da casa, desfazem temporariamente as teias que inevitavelmente retornam, assim como as redes sociais, institucionais e familiares que nos atravessam. Essas redes muitas vezes capturam, confinam e reiteram padrões que nos distanciam de nossa potência criativa. No entanto, como a aranha que consome seu fio remanescente para evitar a fixação em um ideal, também podemos destecer as lógicas de controle e conformidade, navegando pelos vazios e tensionamentos para criar novas formas de ser.

A dança, nesse contexto, não é um ato dominado, mas um estado de fluxo, um contágio que escapa à posse e ao entendimento. não é só um improviso mas a criação de uma partitura que vibra e conecta o corpo a algo além de si mesmo. Assim como a aranha tece sua teia como uma extensão de sua existência, a dança nos convida a transitar por redes invisíveis, construindo um espaço onde a vida se reinventa continuamente. Não há propósito rígido; há o pulsar, o encontro entre o que nos constitui e o que nos ultrapassa.

Ao adotar o modo de ser aranha, descobrimos uma maneira de habitar o mundo que rejeita os projetos fixos e as finalidades determinadas. É no processo vital, no fluxo dinâmico de tecer e destecer, que acessamos a coragem de nos transformarmos. Assim, rompemos as correntes não apenas para nos libertar das sombras, mas para sermos consumidos pela luz criadora, onde o conhecido se dissolve e, no desconhecido, nos tornamos criadores de nossas próprias redes de existência.

Plataforma Shop Sui  - Fernando Martins -2017

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